segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Interior

Vem dias, quando tudo está tão além de mim mesma, que só posso encontrar-me (e perder-me e reencontrar-me) em palavras. Letras, sílabas, sons, palavras dão o sentido a tudo que possa haver e sentir.
Vem dias que tudo que consigo é deixar-me envolver pelo mar de pensamentos, devaneios, desesperos e esperanças que me inundam e afundam.
Vem dias em que toda a esperança se resume ao momento seguinte, ao tempo seguinte, e ao olhar do seguinte.
Vem dias em que o coração vai saltar pra bem longe se a boca não ficar fechada. Vai correr, vai voar, tamanho o impulso da ansiedade.
Vem dias em que os dedos, os pés, os olhos, nada é ágil o bastante pra acompanhar a imaginação.
Vem dias em que nem sei bem quem sou, quase não caibo dentro de mim, quase não sou suficiente pra suportar o quão alta que posso me tornar.
Vem dias em que nem sei bem quem sou, quase não consigo achar-me dentro de mim, quase desapareço de tão pequena que posso ficar.
São todos dias de uma vida tão viva que pulsa dentro de quem é tão frágil e tão forte. São todos dias de uma vida que pulsa dentro de quem quer ter o universo e o nada dentro de si.
De quem tem todos os medos e todas as certezas.
De quem espera todos os sons e todo o silêncio.
De quem quer voar às maiores alturas com os pés firmes no chão.
De quem espera toda a solidão na melhor companhia.
De quem quer ser em plenitude o ser que vive dentro de si.

R. 22.11.09

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